Tem períodos que parecem que as coisas vão acontecendo uma em cima da outra, encavalando como ondas quebrando e nem te dando tempo pra respirar.
Hoje fiz uma sessão de terapia daquelas, daquelas que dá vontade de dizer: bom, terminamos por aqui, já não sei mais se quero realmente saber quem eu sou.
Aí depois achei que tava fazendo um negocião e pela conversão do inferno do capeta me cobraram o triplo em dólar por uma passagem, o que me agarrou uma angústia existencial capitalista horrível. Tô aqui tentando brigar pra tentar resolver, mas o que mata mesmo é a espera até a resolvência do caso.
Nesse climinha delícia entro no bus com meu filho na volta da escola e me encontro com um exemplar de senhora dona da verdade que se acha melhor do que os outros. O motorista gentilmente avisou que ela não podia sentar na frente (por uma lei que existe aqui e que acho que na verdade só diz respeito a menores de 12 anos, mas nem é esse o caso). A senhora surtou, disse que era advogada, que ele não entendia nada, que não sabia interpretar a lei, que ele não teve educação, então por isso não entendia, que ele estava agredindo ela e blá, blá, blá…
Aquilo foi me dando requetreque nem sei, me subiu o sangue e falei que ela tava fora da casinha, que ela não podia tratar os outros assim, que por ser uma idosa não lhe dava o direito de ser escrota. Aí ela me mandou calar a boca. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh. A quinta série já mandou em portunhol: então vem calar! Aí ela disse que ia chamar a polícia, eu disse que era bom mesmo. Expliquei pro meu filho (assustado) o que tinha acontecido. Me senti péssima por ele, expliquei o fato de defender as pessoas que precisam, mas que não era certo brigar assim.
Claramente não estou no meu normal, que aliás faz um bom tempo que nem sei por onde anda, até tento procurar ele mas a estrada anda sem sinalização e cheia de uns buracos meio estranhos. Nessa rota tem também umas bifurcações e queria poder fingir que elas não existem e tomar o atalho cheio de florzinha ali no meio, mas se vou por ali é capaz de encontrar com a minha terapeuta sentada numa pedra, tomando um chá e me perguntando: e agora, qual o próximo passo?

Sei bem como é isso! Uma vez briguei com uma idosa cega no ponto de ônibus, porque ela simplesmente começou a debochar de um vendedor de balas, que estava lá só fazendo o trabalho dele.
Ela chegou dizendo que ele era vagabundo, que tinha que ir procurar emprego e que vender bala era coisa de gente que não tinha o que fazer.
Me subiu o sangue ver isso! O rapaz, coitado nem teve reação e as pessoas em volta só ficaram quietas ou pediram pra eu não discutir com a idosa.
Foi justamente naquele momento do ano que milhões de pessoas estavam desempregadas e fazendo o possível pra conseguir levar comida pra casa, então me senti no direito de fazer isso.
Foi revoltante! Mas senti que fiz o que era necessário.